quarta-feira, 6 de junho de 2007

À cidade da Lua

Luanda é a cidade que não pará e na noite de fim de semana não há estacionamento, não há cadeiras vagas nos restaurantes da ilha, nem lugares para assistir o cinema no Belas Shoping, onde se venderam bilhetes para lugares que não havia. Muitos assistiram ao filme sentados no chão, mas o mwangolé precisa muito de... como é mesmo? Lifar
E há modas em Luanda, mas lifar nunca passou de moda. Contudo, há modas visando um incremento do verbo lifar. Oh meu Deus perdoa-nos por essa necessidade de viver, de rir, de amar, de sonhar, e lifar, chilar ao máximo. - Ché eu ainda não tenho filhos para cuidar, Deus ainda não me deu, posso e devo lifar, é agora, agora é que devo lifar ... Assim fala o mwangolé, enquanto vai adiando a altura em que finalmente terá que parar de curtir e começar a bumbar.
Por exemplo, dar grandes farras de aniversário tá na moda, tá in, é chiqui. Tá moda dançar, conviver, brincar, zoar, é bom constatar que tudo isso continua na moda em Luanda, porque isso faz as pessoas felizes, abrir a boca e dizer-se tudo que se pensa zoando*, é algo que faz as pessoas felizes. Mas para curtir é preciso dinheiro e para quê que a gente quer o dinheiro? Se não para lifar ?
Já deixei de tentar descobrir se o dinheiro traz felicidade e se calhar, não estou a interpretar bem este verbo e agradecia até se alguém me acompanhasse no exercício, mas estou a tentar entender e talvez conseguir conjugar este novo verbo, se for capaz.
Estar na moda é fundamental para habitar a cidade da lua, onde nos surpreendemos a cada passo, onde quase nada é previsível e nem sequer suposto de ser como deveria ser. Só que esta cidade é tão optimista, por isso tá sempre na busca, na procura de respostas. Respostas para o lixo, para os buracos nas estradas, para os assaltos, para o desemprego, para o desleixo, para o sofrimento das nossas zungueiras e vendedores de rua perseguidos pelos fiscais.
É como se sofrer fosse moda também em Luanda. E na verdade, afinal sofrer é moda sim em Angola, bem Angola é África, não é um Congo como dizem , é só, apenas, África. E apesar disso... Luanda tem os seus super mans, a funcionar um bocado tipo aqueles bruxos ou médiuns que tudo sabem, tudo resolvem, tratam de todas as maleitas e de nenhuma, desde que se consigam curar da "comichão".
Luanda é para gente que consegue convencer o polícia a entregar de volta a carta de condução, sem pagar a gasosa, talvez apenas, uma cerveja tomada a dois e um bom trecho de conversa, e o polícia despede-se todo contente. Esquisito. Mas como alguém tem paciência e ainda por cima consegue dar a volta a esse senhor polícia de Luanda?
Senhor polícia por obsequio. Não! Agora é que irritaste mesmo o polícia!. Por obsequio??? Na verdade, por vezes, o polícia da Lua é das coisas mais contraditórias e frustrantes com que nos podemos deparar. Mas temos também aquelas funcionárias públicas e bancárias que gostam de ver a fila crescer e as filas que não andam, cresce a nossa impaciência, vai-se a nossa manhã, enquanto as belas damas sedutoras e enbonecadas vão atendendo os amigos lá do outro lado do balcão. Os cartões do multicaixa são gratuítos, até a malta começar a perdê-los talvez. Mas a seca é gratuita também.
Dizem que não adianta pedir o livro de reclamações. Não faças isso vão dizer: Esta não é de cá. Dá vontade de repetir o Matias Damásio, mais uma vez e de novo, porque elas exibem-nos aquelas caras tipo nada, com um à vontade tá bem tá, vai lá vai. Como se não bastassem todas as outras maleitas de Luanda que se vão arrastando como se nada fosse, quando afinal, também a vontade de mudar se tem arrastado aqui na Lua.
Isso notamos no dia em que, na Chicala, depois de comer um peixe grelhado de primeira, com uma banana pão e uma batata doce, mais uma cebolada à maneira, levantamos para ir ao banheiro julgando que o banheiro, como sempre seria a beira do mar, e pedimos a alguém por perto: «Vá Kiluanji acompanha-me ao banheiro», é que vamos precisar de um guarda costas. Ao ar livre, de rabo para lua e para quem quiser ver, mas foi-nos apresentado um banheiro.
E tem secção para homens e para mulheres. Basta pagar 20 kwanzas pela menor e 50 pela maior. Ai é? Kiluanji diz que eu sou menor, para pagar 20. Bem, não é isso, é assim: 20 kwanzas pagas pelas necessidades menores e 50 pagas pelas necessidades maiores e esteja à vontade madame.

Isa Bela Yana

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