quinta-feira, 21 de junho de 2007

contraste

Tinha vistas atraentes, cabelo longo caído nas costas. Era uma beldade total. Seu corpo formoso brotava um perfume agradável. Nada de defeito, tão visível, que me causasse repulsa imediata. Bastante atenciosa e acima de tudo sensual. Seus movimentos enterneciam. As vestes e o calçado, totalmente chique, capaz de provocar uma vénia.
Fiz algum esforço, levantei-me, fui ao encontro dela no parapeito onde estava, em pé.
-Olá, como está? -saudei.
-Diga!
-Estou a saudá-la. Como estás?
-Ah, tou bem.
-Assustada, ein?
-Não, até não.
-Tens uma formosura invejável. Estou doente por ti, imediatamente, assim que te vi. Uma verdadeira loucura, sem cura. Mataste-me, sabe! - desfiei o rosário como não podia deixar de ser, para persuadi-la a aceitar-me como dono do seu mundo imaginário.
Mas era realmente um ensaio dos truques de paleio que usei aos 18 anos, já esquecidos. A idade ofuscou o resto. O jeito de palear, o flirt verdadeiro às damas não é o mesmo.
No fim do paleio, pouco por sinal, a dama entregou-se. Foi um delírio. Chama-se Mascote.
-Mascote? - interroguei.
-É, chamo-me Mascote. É o meu nome. É assim que me chamam. Mascote.
-Prazer, eu sou Klint.
Vociferei algumas palavras pouco audíveis que a fez encostar o ouvido junto a minha boca. Sentia-me honrado, vitorioso.
-Para onde vamos?
-Tu é que sabes - respondeu ela.
-Ula lá, ula lá! ai é?
-Então vamos.
Seguimos de motorizada e fomos parar a uma esquina.
"Chiça, esta pobreza, mesmo na rua!"
-És nova por aqui?
-Não, estou cá há bastante tempo.
-Mas raramente aparece. Não passeias?
-Passeio sim, tou sempre na rua.
-Tu é que andas pouco.
-Sim, claro, tenho andado ocupado com afazeres - disse eu.
-Não tens um sítio melhor? Aqui não dá, é indecente. Aqui não dá, não é possível, estamos a ser vistos, não dá mesmo!
Enquanto falava, as minhas mãos percorriam dos cabelos a baixo. Um verdadeiro deleite, raro para quem tenha dificuldade em convencer uma heterosexual. É uma vitória, uma conquista, graças ao esforço da boca, a boca faladora.
Mascote abraçou-me, esqueceu-se do que dissera antes, deixou-me fazer, livremente, o que fazia.
Ela vasculhava dentro das minhas vestes. Já não era eu. Estava deslocado, meio inconsciente.
Resisti aos impulsos, com bastante esforço, deu certo. Fiz o mesmo sobre ela. Com respeito.
Percorri as mãos pelo corpo quente de Mascote. Seios flácidos, que eu não podia ver, só sentir, apalpar como quisesse. Não havia oposição nisso. As minhas mãos, malandras atingiram o púbis peludo. Mascote tentou impedir, enquanto beijava-me. A mão...a mão... descendo...descendo.
Um órgão duro, como estava o meu. Larguei.
-Estás assustado? - questionou ela.
-Quê aquilo? - indaguei.
-Vá ao que te interessa, mais abaixo, tás a ver - assegurou Mascote.
Aquilo causou um enorme arrepio, que alterou o meu estado de espírito. Tentei, encorajado, por ela mesma. A mão foi. Achou. Não havia nada saliente como no homem.
"Bissexuada! Que azar! Nunca tinha visto aquilo" - pensei. Era um contraste
Sentes-te bem? - perguntei.
-Sim, para quem me conhece, isto aí é normal.
-Não queres, ein? Não queres? - insistiu.
Aceitei, bastante arrepiado.

Francisco Luciano Fernandes

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